sexta-feira, 29 de abril de 2011

Prioridade

           Rasgando o século XXI, é impossível imaginar uma nação que se construa calcada em princípios básicos de justiça, sem um Estado eficaz no sistema de garantia de direitos para crianças e adolescentes. 

         Garantir a plenitude no atendimento às diversas demandas, um funcionamento digno dos equipamentos públicos, a formação e sensibilização continuada dos agentes das redes de garantia dos Direitos são passos necessários para a transformação desta realidade que nos arrebata.   

            Bom, estes apontamentos são, por demais, reconhecidos. A dificuldade de fazer valer direitos em nosso país não obedece faixa etária, mas um conjunto de fatores que nos desperta à inúmeras outras discussões. Crianças, Adolescentes, Mulheres, PNE's, Idosos(as), Obesos(as), Negras e Negros, Nordestinos(as) e Homosexuais vivem numa constante dificuldade de fazer valer vários direitos em seu dia-a-dia. São privados do direito à circular livremente sem olhares preconceituosos, tratados de diferentes formas, não aceitos e pré-julgados por "aparência", porte físico, cor dos olhos, da pele ou tipo do cabelo. 

               O fato é que: Não existe pensar em garantia de direitos, sem pensar mudança de postura, sem pensar em reformulação, reeducação e reestruturação. 

Para ilustrar.

                  " João da silva, 12 anos.
                    13 Passagens na Polícia
                    3 Transferências escolares 
                    Mãe: paradeiro desconhecido
                    Pai é dependente químico - estado precário.
                    Sua Tutora: Maria - Avó, 75 anos."

                     Mora em condições extremamente precárias, vive vagando pelas ruas sem qualquer referência de carinho, amor, respeito ou cuidados. Não conhece limites, leis, princípios de um comportamento amigável, se mostra hostil, vê de perto  atrocidades talvez não vividas por nenhum outro homem com o dobro de sua idade. Identificado como "garoto-problema", digno de nenhuma confiança, um verdadeiro "monstro". Um monstro de apenas 12 anos.

                       Como intervir na vida de um "João" sem que se tenha uma rede eficaz no atendimento e na garantia de direitos básicos. Acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico, outras tantas áreas da saúde, abordagem educacional diferenciada levando em consideração sua realidade adversa, comer e vestir sem dificuldades no poder de aquisição, profissionais sensibilizados em atender de forma diferenciada, alguém para assisti-lo devidamente de forma que este crie referencias e exemplos, etc. 

                   Logo, a dificuldade na garantia de direitos se apresenta em várias facetas, no entanto, dentro daquela lista de grupos/perfis de pessoas que mais sofrem para garantir seus direitos (quando garantem), o seguimento que mais é afetado é o infanto-juvenil, ainda aumentando a dificuldade na medida em que se encaixa nos demais perfis citados. No caso de "JOÃO", suponhamos a pele branca, perfeitas condições físicas e psíquicas, ainda assim é recebido pelos equipamentos, como o pior dos problemas. Com funcionários desgastados e mal formados, os equipamentos não incluem, não resolvem e não auxiliam, deixando as pessoas que deles necessitam a mercê de uma realidade que já não os apetece. 


                      Todas as cartas de compromissos internacionais, continentais, nacionais e estaduais colocam a prioridade absoluta à criança e ao adolescente grifado em seus textos, no entanto a realidade não compactua com essas linhas, por vezes perdidas em grandiosos textos com requintes de literatura e sem o mínimo poder de intervenção na pratica. Pensar o futuro é investir e impulsionar o presente. Nosso desejo e projeto de mudança calcado na educação pública e de qualidade deve ter um público alvo, e tem.

                        Precisamos olhar de frente os problemas da nossa sociedade, aceitar o fato de que a teoria está a anos luz da prática, e que esse quadro é mutável, assim como é mutável a realidade de monstros de 11, 12 e 13 anos por aí... É preciso acreditar, trabalhar e sonhar. 
                
                  
                    

2 comentários:

  1. Texto bacana!!!legal esta iniciativa...Abraço e boas postagens !!!Tô seguindo !!#tamojunto !!!

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  2. Olá nobre Clayton , conheço um pouco desta realidade ,e já alguns anos sou um colaborador desta causa , e sempre me coloco na posição de agente provocador perante ao Poder Público ,utilizando aquilo que como ninguém eles sabem usar , as LEIS , da se para fazer muita coisa , vc tem razão , e está realidade é mutável , mas será preciso irmos além dos interesses dos pequenos grupos Políticos , e ao mesmo tempo utiliza los para sucedermos tal mudança , pois os espaços de interferência existem e precisão ser preenchidos. Parabéns pelo seu trabalho , e boa Sorte .Abraços Douglas Alves .Coloquei como anonimo porque não tenho blog ainda

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