A única
certeza é perceber o quão somos pequenos diante de algumas grandezas. Sejam
estas da natureza, das energias ou das formações geológicas.
Grutas e
cavernas banhadas por águas azuis que recebem a luz do sol por poucos minutos num
dia, proporcionando cenas incomparáveis do espetáculo da natureza. Paraísos
naturais com valor de entrada. Paraísos privados garantindo que a riqueza de
tod@s, proporcione riquezas particulares. Todas as paisagens maravilhosas contrastam com
as realidades que às rodeiam.
Hora
surpreso pelo fluxo de caminhões transportando sonhos e rebites, hora a 80km
numa estrada de 100km por não conseguir desgrudar os olhos das incríveis
imagens que se sucediam em nossa frente. Em Salvador já presenciamos uma
realidade que se aproxima da capital paulista, se observa a diferença na cor da
pele, nos sotaques e na arquitetura barroca portuguesa abundante nas casinhas e
nas igrejas, que via de regra, cobertas de ouro, servem suas marquises para
abrigar crianças e adult@s vitimados pelo mal do crack/Álcool e outras drogas. No centro do Estado Bahiano, no coração da
Chapada Diamantina encontra-se tanto descaso quanto em nossas periferias
extremas.
Cidadezinhas
históricas do século XIX, misticismo, crenças e contos. Do alto da Cachoeira da
Fumaça, com trilha de início no Vale do Capão, município de Palmeiras, a
sensação de paz e o frio na barriga pelos 340 metros de altura da queda, somado
a visualização de um vale maravilhoso formado entre cãnios da chapada, te
transporta a outro mundo, onde a visita e o gozar de vários patrimônios
naturais daquela região, estivessem ao alcance de tod@s, inclusive dos povos
que ali sofrem por falta de atenção.
Comidas
típicas enchiam a boca d’água, de tão belas, temperadas e saborosas. Importante
papel de salivar, uma vez que a Chapada Diamantina enfrenta a maior seca dos
últimos 40 anos. Precisávamos desse artifício pra aguentar os, em média, 35
graus de sol escaldante. Dos sabores dos vários pratos, aos dessabores com as crianças
que nos recebiam a cada entrada de vilarejo, a oferecer amendoim, doces,
pequenos artesanatos, demonstrando a dificuldade daquela gente em manter suas
vidas dignamente.
Na última
refeição no interior da Chapada, encontramos uma menina, aparentava 6 anos de
idade. Negra, linda e criança, sapeca e com dois luminosos e gritantes olhos
azuis... Chamei por ela diversas vezes, já que nos rodeava querendo nos chamar
a atenção. Mas ela não vinha, parecia não me entender, me indagava com um olhar
questionador, mas incrivelmente expressiva. Tentei arrancar dela o nome e a
idade, sem sucesso. Lugar de poucos frequentadores a refeição custou a sair,
mas finalmente pronta, obtivemos as informações da menina com a atendente do
restaurante. Aquela menina expressara perfeitamente em forma humana o que era
aquele lugar. Linda, exuberante, sofrida e enigmática. O nosso deslumbre, não nos
permitiu perceber que desde o nascimento ela não ouvira uma palavra sequer, e
não falava por consequência. Libras? Não. Elas desenvolvem seus próprios
sinais.
Vale do
Capão, Palmeiras, Lençóis, Igatú, Chapada Diamantina: Paisagens lindas e
inesquecíveis, vivencias sofridas que desejamos não rever. Deslumbrar-se com
suas belezas é consequência, se indignar com seus contrastes é um despertar de
compreensão. Visitem.
ja sou seguidora abraços
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